segunda-feira, 29 de setembro de 2014

RELATO DE PARTO - PARTE II - QUANDO PROVO A MIM MESMA QUE DOU CONTA DE PARIR

Olá, mam@es! Para você que ficou curiosa pela segunda parte do meu relato de parto, enfim este dia chegou! Mas confesso a vocês que não me recordo dos momentos mais profundos do parto, por isso chamei meu parceiro, companheiro, vulgo MARIDO, para escrever este texto comigo. Se apresente MARIDO:

Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Primeiramente vou explicar algo que talvez minha querida ESPOSA não tenha comentado: sou um pouco esquecido. Mas era inevitável ela me convocar para essa segunda parte do relato, já que, naquele dia, tava ocupada com "outros afazeres". Então vamos ao relato dessa nossa aventura a dois! Ou melhor, a três! Prometo que vou tentar dar o meu melhor pra lembrar de todos os detalhes e, sobretudo, tentarei imprimir todo os sentimentos daquele dia incrível! Obrigado pelo convite e pela confiança, mô!

Voltando o texto para a mam@e aqui! Como vocês perceberam no meu primeiro relato, sou uma pessoa um tanto controladora, ou seja, sou A ansiedade em pessoa. Então, a partir da 37ª semana, já passei a achar que, em qualquer momento, o Lucas nasceria. Por isso comecei a fazer tudo aquilo que dizem que desencadeia trabalho de parto naturalmente. Fui para acupuntura; tomei milhares de banhos quentes pelando (e com isso queimei a resistência do chuveiro elétrico e quase explodi a fiação elétrica da casa); chamei a Doula para me ensinar a fazer o tal chá da Naolí (se você não sabe o que é isso, clique aqui); fui ao cinema assistir o filme mais meloso que tivesse em cartaz (credibilidade científica, a gente se vê por aqui); comi comidas com pimenta (nada insuportável); fiz caminhadas; pratiquei yoga; namorei... E é claaaaaaro que Lucas só "deu as caras" depois que desencanei totalmente!

Foi com 40 semanas + 3 dias que ele realmente quis nascer. Se você leu a primeira parte do relato (se não leu, clique aqui), já percebeu o quão providencial foi trocar de obstetra, pois neste dia, estávamos exatamente no meio daquele feriadão mencionado, entre Corpus Christi e o dia de São João. Minha obstetra estava viajando, mas voltaria naquele dia. Por volta das 6:30h da manhã, acordei sentindo algo descer pelas pernas, levantei, fui ao banheiro e continuei sentindo. Era bem pouquinho, mas descia e por isso concluí que tinha sido a bolsa. Senti um misto de alívio pela chegada do dia e medo. Fui acordar o marido e ele ficou todo bobo. Decidimos ligar e avisar nossa equipe obstétrica (obstetra, enfermeira e doula). Dra. Camila, nossa obstetra, estava em um local pouco acessível e a chamada caia na caixa postal. Mas Tanila, a enfermeira obstétrica, que seria minha acompanhante médica em casa até que o trabalho de parto estivesse bem avançado para irmos ao hospital, me atendeu. Relatei o ocorrido e como ainda não sentia dores, ela me disse para ir descansar, que o parto estava próximo, mas podia começar para valer só mais para noite. Então liguei para Tarsila, nossa doula e amiga, que também me tranquilizou e pediu para avisar quando as contrações iniciassem. Logicamente não consegui voltar para cama e dormir, então levantei de vez às sete da matina, fui tomar meu café e avisar aos meus pais, que já tinham viajado para cá da cidade deles para me ajudar com o meu filho mais velho. O novo netinho deles estava dando sinal que queria nascer!

Passou-se uma hora e as contrações deram "Oi". Começaram já em curto intervalo, 2-3 minutos, mas ainda com pouca duração. Liguei para toda a equipe de "-ilas" novamente, a doula Tarsila apareceria primeiro por volta das 10h e daria um feedback para a enfermeira Tanila de como estavam evoluindo as contrações. Tanila se encarregou de conseguir contato também com a obstetra Dra. Camila e se fosse o caso, ligaria para a obstetra back up (equipe maravilhosa que temos em Salvador, sempre tem alguém de back up).

Foi aí que algo inesperado aconteceu e deixou meu coração apertadinho. Davi, meu filhote mais velho, parecia pressentir que, naquele dia, deixaria de ser o filho único. Acordou e não queria comer nada. Tentamos dar coisas saudáveis, até chegar nas não saudáveis que ele gostava e ele não aceitou nadinha. Fiz carinho, peguei no colo e quando foi para o colo do pai, ele vomitou (diga-se de passagem, pela primeira vez na vida). Fiquei mais sensível ainda e já sentindo dor, não sabia o que fazer. O pai deu um banho nele e, como ele ainda demonstrava sono, minha mãe o colocou para dormir novamente. Quando Davi acordou, graças a Deus, parecia que já tinha resolvido com ele mesmo que não perderia nada naquele dia e sim ganharia um lindo irmão para lhe fazer companhia pro resto da vida! E aí voltou ao seu normal: comeu, brincou, imitou a mam@e vocalizando entre as contrações e trouxe alívio para meu coração.

Voltando ao início do trabalho de parto, Tarsila se encarregou de cronometrar as contrações e me livrou de ficar pensando no tempo, me ajudando muito a relaxar. As dores existiam, mas nada insuportável. Tomei o chá da Naolí novamente, Tarsila fez um escalda pés e depois decidimos subir as escadarias do meu prédio para ajudar o trabalho de parto engrenar. Após ele me acompanhar por alguns andares, conversei com meu esposo e pedi para que ele ficasse com Davi até o trabalho de parto engrenar de vez, aí sim pediria para ele ficar comigo. E assim passou a manhã, tentei almoçar um pouco, tomei bastante líquido e fui orientada a tentar descansar entre uma contração e outra. Achava que seria impossível, mas no quarto escurinho, sentada na bola de pilates, com musiquinha colocada pelo marido, conseguia cochilar encostada na cama. Tanila chegou por volta das 12:30h em nossa casa e começou a monitorar os batimentos cardíacos do Lucas. Tanila e Tarsila conversando entre si, sugeriram subir novamente as escadas. As contrações continuavam durando pouco e elas queriam intensificar isso. Moro no 12º andar, mas contando com os dois níveis de garagens e pelotis, até o meu andar, são 14 andares. Desci ao térreo de elevador e fui subindo degrau a degrau e parando quando as contrações vinham. À medida que ia subindo, as contrações foram ficando mais dolorosas, quando cheguei ao 8º andar só pensava no meu chuveiro quentinho e, como diz Tanila, subi voando até o 12º andar. Daí por diante não queria mais sair debaixo do chuveiro quentinho, sentada na bola de pilates. O único problema é que a chave de energia do chuveiro caía a cada 10 minutos e logo a água ficava gelada.

Pois é, bem neste dia, tinha jogo do Brasil! O nascimento de Lucas foi permeado por coincidências, pois também nasci no meio da Copa do Mundo de 86 e no dia do jogo do Brasil. Como disse antes, meus pais estavam conosco em casa e minha mãe trouxe com ela várias lembranças deste dia, sobre o qual, curiosamente, eu nunca tinha perguntado a ela. Foi um bom pano de fundo para tirar o foco da dor do parto. O comportamento dos meus pais durante o parto também foi inesperado. Achava que, para meu pai, seria mais fácil presenciar a evolução do parto e entender minha decisão. De fato, ele entendeu e respeitou, mas não conseguiu sequer me olhar durante todo o trabalho de parto. Ficava agoniado só de me ouvir vocalizando. Já minha mãe, que também tem a experiência de um parto normal e uma cesárea, conseguiu presenciar parte do parto, vez ou outra ia até o quarto de casa, ver como eu estava e ao fim, ficou na porta da sala de parto me ouvindo e lembrando do seu próprio parto, como ela me disse depois. Mãe, te ter por perto me deu paz e foi por esta paz que consegui me entregar ao trabalho de parto sem me preocupar com os cuidados com meu filho mais velho.

À medida que a tarde ia dando vez para a escuridão, o trabalho de parto ficava mais intenso e doloroso. Tarsila fazia massagem na minha lombar a cada contração e minhas vocalizações iam indicando que o trabalho de parto já estava chegando na parte final. Tanila achou por bem fazer um toque para decidirmos se estava na hora de irmos ao hospital. Era por volta das 17h, o jogo do Brasil estava começando, a cidade estava concentrada e parada e foi quando tive a notícia que já estava com 8cm de dilatação. Poxa, foi um alívio ouvir isso! E na hora perfeita! Nossa ida ao hospital nunca poderia ser tão rápida. Mesmo assim, a parte do carro é realmente como eu li em vários relatos de parto: desesperador. Os avós e o filhote ficaram em casa. Chegando lá encontramos com a nossa obstetra no estacionamento. Antes de sair de casa, Tanila tinha conseguido contato com ela para informar do trabalho de parto e ela agilizou o retorno. Já na portaria, começaram os protocolos hospitalares “sem sentido”. O recepcionista insistia que eu precisava subir para o quarto na cadeira de rodas, normas do hospital. Dra. Camila garantiu que aquilo não era necessário e que eu não iria de cadeiras de rodas, o recepcionista muito a contra gosto aceitou. As contrações já estavam bem dolorosas e as vocalizações já estavam mais para gritos mesmos. Fui para o quarto e lá ficaria até a hora do expulsivo (dilatação completa). No quarto, Dra. Camila começou a monitorar os batimentos cardíacos do Lucas e eu pedi para voltar para o chuveiro. Mas antes precisava cumprir mais um protocolo “sem sentido” e um tanto quanto cruel em uma mulher em trabalho de parto ativo: tirar sangue para a tipagem sanguínea, mesmo eu estando com todos os meus exames lá. Mas depois desta etapa, “corri” com a bola de pilates para debaixo do chuveiro. Como era boa a água quentinha batendo na bacia! O marido ficou comigo debaixo d’água me dando um apoio moral, sentimental, religioso e se entregando de fato ao trabalho de parto. Acho que deu até para esquecer que estava tendo jogo do Brasil, né, Amor? rsrsrs.

Daqui em diante, vou entregar o relato para ele, pois a memória começou a ficar turva neste momento, a “partolândia” invadiu meu ser e me recordo de fragmentos apenas. Enquanto ele for escrevendo o que ele lembrar, eu vou incluindo meus sentimentos e pensamentos! Quando a cor do texto ficar preta sou eu que estou escrevendo. O texto é todo seu, André:

Bom, pessoal, vamos ao que lembro! Antes de ir para o PPP (Sala Pré-Parto, Parto e Pós-Parto), rezamos Ave-marias debaixo do chuveiro, vocalizamos juntos e esperamos no quarto até a “vocalização” estar bem audível no corredor da maternidade. Dra. Camila fez um toque e constatou dilatação completa, hora de ir para a sala de parto. Saindo do banheiro do quarto, o estômago da Bianca não quis mais se segurar e vocês já podem imaginar o que aconteceu né. Logo na saída do quarto, quem encontramos: os avós com o filhote mais velho, pois tinham sido muito otimistas com o tempo de parto. Desapontados, foram para a sala de espera.

Já sabíamos que o espaço no PPP não era lá essas coisas, mas parece que ficou menor ainda com aquela sensação de ansiedade. Entramos por volta de 19:30h lá, baixamos a intensidade da luz e conseguimos ficar só nós e a nossa equipe, sem ninguém do hospital, o que não é o usual. Ponto positivo pro hospital! Numa primeira observada, descartamos o chuveiro, porque só teria espaço lá pra Bianca e mais uma “ila”. A bola também seria logo descartada. Agora não lembro bem a ordem certa das posições, mas lembro que fomos prum aparelho chamado “cavalinho”, em que eu fiquei de pé por trás dela sentada apoiando com todas as minhas forças a parte debaixo das costas dela, pois era do que ela mais reclamava de dor. Ficamos ali balançando e vocalizando nem sei por quanto tempo, mas lembro que dei uma cochilada. Sim, admito que dormi por uns 5 segundos, mas agora lembro também que foi nesse momento que reuni todas as minhas forças e disse pra mim mesmo que, dessa vez, eu não deixaria de participar de tudo e dali pra frente, tentei me manter o mais forte e lúcido que pude pra ajudar no que fosse preciso a Bianca. Então comecei: “Você pode, mô! Você consegue. Fica firme. Você é linda. Nosso filho é lindo! Ele vai vir bem! Na hora dele, como nós queríamos. Ele já tá vindo...” E continuei cochichando no ouvido dela o que meu coração tivesse querendo passar pra ela.

Pelo que lembro, resolvemos sair daquele aparelho pra tentar acelerar o trabalho de parto com a Bi de pé. A Bi tava esgotada já, as pernas dela só sustentavam 50% dela àquela altura. O resto era eu e a Tarsila. Abraçada a mim, a Bi vocalizava e aguentava o quanto podia. Até que de repente, splash! A bolsa se rompeu, esparramando líquido amniótico e sangue por todo o chão do PPP. No início do relato, mencionei que tudo começou com um líquido escorrendo pela minha perna né. Pelo tanto de líquido que saiu durante o trabalho de parto, concluímos que só havia ocorrido uma fissura e eu não estava com bolsa rota. Com a roupa toda suja, perguntaram pra Bi se ela queria outra roupa; e ela, sem pestanejar, disse que continuaria do jeito que estava, “como veio ao mundo”. A “partolândia” apronta cada uma conosco! Uma das primeiras recomendações que dei a Tarsila nos encontros de doulagem foi que orientasse a equipe a me deixar vestida o máximo de tempo possível. Mas na hora do vamos ver, foi eu mesma que não quis saber de roupa.

Depois disso, fomos para um banquinho em “U” (Banqueta para Parto de Cócoras), onde ela tenderia a ficar mais acocorada, facilitando a abertura do caminho para Lucas. E dá-lhe vocalização! Mais um pouquinho, e a Bianca começaria a fazer força involuntariamente, mas parecia não ser suficiente (eu mais gritava que fazia força pra falar a verdade, isso acabou com minhas energias). O efeito da “partolândia” na Bi era cada vez mais claro à medida que as costas dela deixavam de ser a dor principal. Nessa hora, estava a Bi sentada no “U”, eu num banquinho maior atrás dela, apoiando-a ora com as mãos, ora com os joelhos, porque minhas costas também começavam a reclamar. A doula estava ora me apoiando, ora apoiando a Bi. A enfermeira e a obstetra estavam sentadas no chão na frente da Bi, monitorando dilatação, batimentos etc. E foi pouco depois de um desses monitoramentos que houve uma esguicho de líquido amniótico com sangue na obstetra e o Lucas estaria finalmente vindo. Dra. Camila pediu que Bianca sentisse o topo da cabecinha dele coroando, pois ela não o estava sentindo descer (relutei para colocar a mão, nem sei por que). Mas aí é que está o momento mais mágico pra mim. Eu sentia ele descer de onde eu estava. Eu conseguia sentir toda a movimentação dele. E eu dizia tudo o que eu sentia ao ouvido da Bi. Foi uma sensação realmente mágica de sintonia e unidade. E como me deu força e me fez acreditar que realmente o nascimento estava próximo.

Bi continuou a vocalizar e fazer força e vocalizar e fazer força até que a cabecinha saiu e logo depois, às 22:35h, o Lucas por inteiro. Indescritível aquele momento. Ele vindo em sangue e choro pro colo da mãe e eu por trás da mãe, apoiando seus braços. Naquele mesmo instante, ele já procurou o peito da mãe. Meu mocinho mamador já nasceu com uma pega perfeita.

Nessa hora, a equipe do hospital adentrou o quarto e já foi tomando as providências para cuidar e tratar do Lucas. Bi estava totalmente atônita, parecia que dormia de olhos abertos, ainda no banco em “U” (eu estava era passando mal mesmo, perdi minhas forças). Dra. Camila segurou o cordão umbilical para que eu o cortasse; e só depois carregamos a Bi para a cama (tive um rápido desmaio neste momento) para que a Dra. Camila avaliasse a necessidade de suturar e esperarmos a placenta nascer. Neste momento foi necessário colocar um pouco de ocitocina no soro. E sim, eu tive laceração, levei alguns (vários) pontos.  Com a Bi na cama, fui acompanhar o Lucas nos procedimentos natais. Como antes já havíamos exposto que nosso parto seria humanizado, não foram feitos a maioria dos procedimentos invasivos que geralmente fazem. Não o esfregaram, nem deram banho e nem aspiraram. Só o limparam, o mediram, o pesaram, o examinaram e pingaram o colírio nos olhinhos dele (este protocolo não conseguimos vencer), mas ele nem chorou nessa parte.

Testes e exames feitos, Lucas foi mamar. Disso essa mãe entende bem, né, mô! Devolvo a palavra a ela... (Foi um prazer, pessoal! Até a próxima!)

E aí novamente Lucas mostrou que já tinha nascido sabendo mamar e fez uma pega linda já na primeira mamada que ocorreu dentro de sua primeira hora de vida, mantendo o contato pele a pele que é tão importante neste início de conexão maternal.

Doeu parir? Sim, doeu demais. Doeu ao ponto do meu primeiro pensamento ao sair da sala de parto para o quarto ter sido: “nunca mais vou ter outro filho na minha vida!” Foi isso que ficou gravado em minha memória de toda esta experiência? Não, depois de uns 15 dias após o parto não fazia mais ideia de como era a dor das contrações, do que senti na hora do expulsivo. Dor é muito diferente de sofrimento, eu sabia que aquela dor era necessária para meu filho nascer e encarei ela. Como deu para perceber, o parto foi natural e não recebi analgesia. Por um único momento, já lá nos “finalmentes”, eu gritei: “QUERO ANALGESIA!” E aí me falaram: “Bianca ele já está nascendo, tem certeza?” E aí me calei, o pensamento foi: "do jeito que este hospital está parado por conta do jogo do Brasil, é mais fácil eu parir logo do que esperar este anestesista aparecer por aqui (rsrsrs)". Mas em nenhum momento, pensei em pedir uma cesárea, acho que todas da equipe esperavam em algum momento este pedido, afinal eu era a cesarista que tinha caído de paraquedas no mundo da humanização. Mas naquele ponto ali já tinha entendido que eu era capaz e que meu filho viria sim de forma natural. Acho importante contar que o meu pós-parto não foi fácil como costuma ser para quem tem parto vaginal. Além da laceração que me incomodou por 1 mês, eu tive anemia pós-parto e desmaiei outras duas vezes no hospital. Isso esticou minha estadia no hospital de 2 para 5 dias. Lógico que fiquei bem chateada de não ter sido contemplada com um dos melhores benefícios de ter um parto vaginal; mas ao longo do tempo, entendi que tudo que aconteceu tinha um porquê e hoje, caso eu tenha um outro filho (já viram que esqueci aquele primeiro pensamento pós-parto, né), ele com certeza nascerá via parto natural humanizado. Este parto me fez ser uma nova mulher: mais forte, mais leoa, mais conectada com meu corpo. 

Espero que tenham gostado da segunda parte! Se você ficou muito perdida com os termos utilizados neste relato, aguarde meu novo post, onde explicarei um pouco sobre o movimento de humanização do parto. 

Para finalizar, deixo vocês com um simples registro que fiz do nosso parto. Não contratamos fotógrafa, mas nossa equipe se encarregou de registrar os melhores momentos. Obrigada Tarsila, Tanila e Camila, vocês nos provam em cada atitude que acima de profissionais da saúde são profissionais humanizadas e sensíveis a este momento tão importante na vida de uma família.



Aguardo seus comentários e se tiverem alguma dúvida, fiquem a vontade! Beijos.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

RELATO DE PARTO - PARTE I - COMO UMA CESÁREA VIROU UM PARTO NATURAL HUMANIZADO

Para vocês entenderem melhor meu relato de parto, achei melhor começar contando quem eu era antes dele. Por isso, essa primeira parte é para contar sobre minha vida antes do parto. E no próximo post, farei o relato do parto.

Primeiramente, eu já era mãe, de um lindo menino, que nasceu fruto de uma cesárea eletiva muito desejada. Sim, eu desejei ter meu primeiro filho de cesárea desde antes dele ser um feto. Não, eu não faço parte do grupo de mulheres que acham que a tecnologia está aí para ser usada. Também não tinha medo da dor do parto, pois já tinha passado por muitas dores físicas nesta vida. Porém, a dor de perder o controle e a previsibilidade dos acontecimentos isso sim sempre me afetou muito. Não saber o “quando” e o “por quanto” tempo sempre me assustou muito e em se tratando de primeiro filho, me aterrorizava mesmo. Junto com tudo isso morava mais de 1000km longe da minha família e não concebia a ideia de ter meu filho sem minha mãe por perto para me amparar e ajudar nos primeiros dias. Por tudo isso, não me arrependo da escolha, foi a adequada e conveniente para a maturidade e conhecimento que eu tinha à época.

Além de mãe, sou psicóloga e, depois do nascimento de Davi, comecei a escrever sobre assuntos maternos e cada vez me aproximar mais de pessoas ligadas à humanização do parto. Eu sempre soube deste movimento, mas antes, pela confiança de que a minha decisão anterior foi muito ponderada e individualizada nunca me atrevi a entender o que o movimento tanto buscava. Mas sempre escutava muitas indagações e opiniões adversas das ativistas principalmente quando o assunto era o porquê de ter tido uma cesárea agendada. Sinceramente, a forma incisiva que muitas ativistas abordam as mulheres faz com que muitas destas não tenham muito interesse em entender porque tanto se discute parto normal x cesárea. Mesmo eu, que nunca achei que cesárea era a melhor forma de nascimento e sempre admirei o parto normal, me afastava da temática pela forma rígida como eu sempre era abordada.

Mas voltando à gestação do meu segundo filho, foi no anivesário de 1 ano do mais velho que descobrimos que a família aumentaria. E aí começamos a procura por um obstetra do plano de saúde. Já não morava mais no mesmo estado que meu mais velho tinha nascido, então era tudo novo de novo. Após 1 ano de mãe uma coisa eu já havia aprendido (ou pelo menos achava que tinha aprendido): esperar a hora que o bebê realmente quer nascer era muito importante. Na época, o que me fez chegar a esta conclusão, foram as dificuldades que tive com meu mais velho com relação a amamentação. Meu filho não mamou nas primeiras horas de vida, nasceu muito sonolento e só o coloquei no peito após umas 5 horas de nascido e isso porque pedi para meu esposo me ajudar, pois nenhuma enfermeira se prontificou a me ajudar (e eu até recentemente nunca tinha me tocado de que tinha sido “vítima” do sistema obstétrico nacional). As semanas seguintes ao nascimento dele também foram assim e ele só perdia peso. Depois de 15 dias de nascido e eu batalhando para continuar na amamentação exclusiva, decidimos complementar como a pediatra tanto pedia. Pronto, nunca mais largou a mamadeira, já o peito foi deixado de lado aos 5 meses de vida. Determinada a escrever uma história diferente com meu caçula, decidi que eu entraria em trabalho de parto desta vez e aí sim, faria uma cesárea.

Cheguei com este meu plano a vários obstetras e todos eles foram categóricos em afirmar que eu não podia entrar em trabalho de parto e muito menos parir sob o risco ENORME de ter uma ruptura uterina, já que tinha uma cesárea anterior e ela ainda era recente. Teria que ser uma cesárea eletiva novamente. Após escutar algumas vezes a mesma história me conformei com este fim, mas isso ainda estava longe do fim. Com 4 meses de gestação, voltei a procurar obstetras, pois tinha recebido um diagnóstico “errado” de placenta prévia e após conversar com várias pessoas ligadas à humanização (inclusive com aquela que seria minha doula), decidi colocar em pauta novamente entrar em trabalho de parto, mas persistia querendo uma cesárea. Achei enfim um obstetra que a princípio concordou que eu poderia entrar em trabalho de parto.

Em paralelo, me indicaram entrar em uma turma de Yoga para Gestantes (mais uma vez aquela que estava me guiando rumo à informação segura, a minha amiga doula) e lá fui eu já com 5 meses de gestação. Chegando lá encontrei um monte de mulheres verdadeiramente empoderadas em parir naturalmente, algumas em casa, outras no hospital e ainda algumas numa tal de casa de parto (não fazia ideia que isso existia no Brasil e ainda pelo SUS). Fiquei caladinha na minha, achei melhor não expor que faria uma cesárea, até porque eu nunca tive nada contra parto normal, só não me achava capacitada psicologicamente para isso. Foi então que um dia a turma se organizava para assistir todas juntas o documentário “O Renascimento do Parto” e eu solto a seguinte frase: “Ah, quero vê sim, mas posso fechar os olhos nas cenas de parto?”

Pausa para os olhares assustados que eu recebi...




Me entreguei sem perceber, logicamente todas concluíram que meu primeiro filho tinha nascido de cesárea e o próximo também seria assim. Felizmente, como todo relacionamento saudável, ninguém me julgou, aceitaram minha falta de informação e acredito que pensaram: “essa aí precisa mesmo assistir o documentário.”

Quando estava na 35º semana fui para minha consulta do pré-natal e para minha surpresa o Doutor tocou no assunto do parto. Ainda não comentei com vocês, mas minha DPP (Data Provável do Parto) era no meio de dois feriados seguidos e ainda no meio da Copa do Mundo do Brasil, sendo que moro em uma cidade-sede. O Doutor provavelmente já querendo programar o feriado dele e faltando ainda um mês para a DPP, já começou com aquela famosa “conversinha” para o agendamento da cesárea. Eu fiquei muito chateada de ter sido pressionada daquela forma, porque primeiro ele voltou atrás de algo que já havíamos combinado e, segundo porque ele tentou utilizar de argumentos que eu sabia não serem reais, incluindo o fator hormonal do trabalho de parto não ser importante para a amamentação. Mas o que me deixou mais indignada foi escutar a seguinte frase: “eu sinto pena que você queira sentir dor”. Saí dessa consulta muito estressada e perdida, pois sabia que se continuasse com aquele médico, eu não conseguiria aguardar o trabalho de parto, mas, ao mesmo tempo, estava já no fim da gestação, como achar um obstetra que me deixasse aguardar a hora do meu filho?

Não por acaso (realmente acho que teve um dedinho de Deus aí), no dia seguinte, era o encontro com as meninas do yoga para assistirmos o documentário e é claro que tudo aquilo ali passou a ter um sentido enorme para mim. Foi como se tivesse caído uma cortina que me impedia de ver, coisas óbvias, como o fato de o nascimento ser algo fisiológico, devendo ser separados os casos excepcionais, em que realmente exista algum impedimento de parir. Entendendo isso não tinha porque renegar a natureza e “extrair” cirurgicamente um filho. Contei para elas o que tinha acontecido no dia anterior e recebi muito apoio para promover uma mudança em minha vida. Cheguei em casa disposta a tirar essa mesma cortina dos olhos do meu esposo e, no mesmo dia, assisti novamente o documentário, agora com ele. E para minha surpresa, aquele homem que desmaiou ao me ver sendo suturada na cabeça e que todos desconfiamos que mal aguentaria ficar comigo na cesárea do Davi, assistiu todo o filme e já nos 10 primeiros minutos me disse: “Precisamos fazer algo para mudar o nascimento de Lucas!”

E foi assim que uma cesárea virou um parto natural humanizado na 35º semana de gestação. Fui acolhida por uma das obstetras que se dedica para fazer a diferença neste cenário. Me conformei que não conseguiria este tipo de parto pago pelo plano de saúde, mas decidimos que este seria o melhor investimento feito em nome de nosso filho. Corri atrás de estudar e assistir todos os partos possíveis (sim, eu perdi o medo de ver parto). Liguei para aquela minha querida amiga doula que tanto guiou meus passos para este caminho e logicamente a chamei para nos acompanhar nesta nova aventura. Fui a rodas de conversa destinadas a esclarecer dúvidas e tive a grata surpresa de ver as obstetras da cidade também participando. E também procurei apoio nas amigas que de algum modo conheciam esta realidade paralela (doulas; mães que pariram; mães que quiseram parir, mas foram engolidas pelo sistema). O meu muito obrigada a todas vocês!

Essa foi a nossa caminhada até chegar ao parto de Lucas. Então lhes digo duas coisas:

- Se você QUER ter um parto natural humanizado, saiba que terá que lutar por isso. Estudo e pesquisa são fundamentais para não ser "engolida" pelo sistema.  Participar de uma roda de apoio ao parto humanizado te ajudará a encontrar quais os profissionais que realmente lhe ajudarão neste objetivo.
- Agora se você apenas GOSTARIA de ter um parto natural humanizado, tenho que lhe contar que é preciso mais. É preciso querer verdadeiramente! Do contrário, o máximo que você poderá conseguir é um parto normal infelizmente repleto de intervenções desnecessárias!


Estou à disposição para ajuda-las no que for possível! Até a PARTE II do Relato, mam@es!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Retornando com o blog em 3,2,1...


Olá Mam@es queridas!!!


Retorno a escrever neste blog após 1 ano e 8 meses de afastamento. Estou sentindo uma necessidade gritante de contar sobre o que aconteceu comigo desde que meu primogênito nasceu, e com estes relatos, quem sabe poder auxiliar outras mam@es que assim como eu, não tem medo de se transformar! 

Perceberam que usei o termo primogênito né? Sim, Davi agora é meu filho mais velho! Nossa família cresceu e após 1 ano e 8 meses do nascimento do Davi, já temos em nosso convívio Lucas, com 2 meses de vida.

Lucas é a razão do retorno deste blog, pois ele veio para me desconstruir enquanto mãe e me reinventou de tal forma que estou até agora sem saber como pude ser outra. Se você conheceu este blog antes, aguarde novos post para saber o que aconteceu em nossas vidas. Se você me conheceu a partir do nascimento do Lucas, leiam, por favor, meus textos, Pelo direito da escolha do Parto! e Amamentação: nem sempre é como no comercial do Ministério da Saúde. Sei que vocês vão rir, assim como eu, ao reler isso. 



Minha família atualizada